quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sobre a "Greve dos Professores" na UFMG


Reunidas e reunidos em Assembléia realizada no dia 19 de junho de 2012, docentes da Universidade Federal de Minas Gerais deflagraram a greve de professores na instituição, reivindicando a reestruturação da carreira docente; a valorização do piso salarial; a incorporação das gratificações e a melhoria das condições de trabalho.
O movimento foi impulsionado pela greve nacional das instituições federais de ensino superior, iniciada no dia 17 de maio após aviso de greve feito pelo ANDES (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior). Apesar de as e os docentes da UFMG serem representados por outro sindicato, o APUBH (Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e Montes Claros), no dia 19 de junho elas e eles finalmente decidiram se juntar à greve nacional, que já contava com a adesão de 49 universidades e 5 institutos federais.
As greves na educação tem se tornando cada vez mais recorrentes em nosso país. Além das e dos professores das instituições de ensino superior, educadoras e educadores estaduais e municipais também tem lutado bravamente por uma educação brasileira que não só valorize a profissão como também reconheça o importante papel destas e destes profissionais para o verdadeiro desenvolvimento nacional. A exemplo, tivemos em Minas Gerais, no ano passado, uma greve de mais de 100 dias na rede estadual de ensino; sendo que este ano também professoras da educação infantil entraram em greve.
Diante da mobilização das e dos professores da UFMG, as e os estudantes também não ficaram parados. Em apoio a greve de professores e também como forma de reivindicação ao direito de uma educação superior de qualidade, estudantes da Federal de Minas Gerais também estão em greve. Assim, também estão sendo realizadas na Universidade várias reuniões e ações com caráter grevista estudantil. Acreditamos que nosso apoio está sendo muito importante para a greve de professores, principalmente no sentido de conscientizar mais e melhor aquelas e aqueles que não estão tão dispostos a se envolver com as lutas em favor dos direitos coletivos e individuais.
Entretanto, as e os estudantes tem encontrado dificuldades na afirmação do seu direito de greve. Devido, talvez, à demora para a mobilização mais geral na UFMG, junto com especificidades da conjuntura, a greve aqui está sendo “sentida” por todas e todos, porém professoras e professores tem continuado com as atividades acadêmicas, provocando uma confusão enorme no quotidiano de estudantes e mesmo deslegitimando a greve destas e destes; e de suas/seus colegas. É lamentável e vergonhosa a resistência e a demora de algumas/alguns professores para aderir à greve, visto que esse (não) movimento ignora fortemente demandas tão importantes para a coletividade e para a individualidade aqui na UFMG.
Enquanto estudantes negras e negros e de origem popular, nós, do PET- Conexões de Saberes/UFMG, nos mantemos preocupadas e preocupados com os caminhos da nossa universidade e também com o futuro da educação superior e básica no Brasil. É conhecido que somos um grupo colocado o tempo todo à margem da sociedade e, consequentemente, afastado de uma educação de qualidade em todas as fases da nossa vida. No caso específico do ensino público superior, somos obrigadas e obrigados a disputar o vestibular em condições muito desiguais, injustas de seleção (entre outros motivos, porque concorremos com estudantes que tiveram acesso a um ensino básico e médio muito superior ao nosso; e porque elas e eles tiveram muito melhores condições para estudo que nós, considerando o contexto familiar, moradia, necessidade (ou não) para contribuir com as despesas da casa, etc.) e, quando conseguimos a aprovação e o ingresso na universidade pública, enfrentamos sérias dificuldades para permanecer estudando em um contexto pensado exclusivamente para brancas e brancos; e pessoas oriundas da classe média ou da classe alta. Deste modo, todas as decisões e os movimentos que dizem respeito ao ensino público – e ao público superior – nos interessa de sobremaneira e lutaremos arduamente pelo nosso ingresso e nossa permanência em espaços de educação de maior qualidade.
Reconhecemos, entretanto, que ninguém muda uma realidade sozinha ou sozinho. Assim, precisamos que todas e todos estejam efetivamente envolvidos nesse movimento que pretende resistir ao sucateamento do ensino público – o qual colabora de forma agressiva para a manutenção dos lugares de poder que se apresentam hoje em nossa sociedade e para uma ideia falsa e fabricada de desenvolvimento.

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